Duas forças que se levantam

Em meio a um processo eleitoral confuso, os pernambucanos se deparam com outro que emerge na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Ele foi aberto após o falecimento do deputado Guilherme Uchoa, que presidiu a casa por seis biênios, ignorando solenemente o critério de proporcionalidade das bancadas.

O jogo de poder é intenso e não deixa espaço para lamentações. A cadeira vazia requer urgente ocupação porque concede ao seu dono não só o controle de um orçamento anual de R$ 500 milhões, mas o poder de movimentar uma engrenagem importante nas próximas eleições de outubro.

Essa disputa, que ameaça desequilibrar as forças do governo Paulo Câmara às vésperas do período eleitoral, traz à tona um personagem polêmico, que vem ganhando força dia a dia nos últimos tempos: o deputado Eduardo da Fonte, do Partido Progressista (PP-PE).

Em maio, Eduardo da Fonte tornou-se o sexto deputado a virar réu na Lava Jato no STF, acusado de receber R$ 300 mil da construtora UTC em troca de beneficiar a empresa com um contrato na Petrobras envolvendo a Coquepar, planta que seria construída no Paraná para processamento de coque de petróleo. Segundo a Policia Federal, esse caso se deu entre 2009 e 2010, em seu mandato anterior de deputado federal.

Outras acusações, algumas arquivadas, pesam sobre ele, como a negociação de voto a favor de Dilma Rousseff durante seu processo de impeachment. Em troca, o deputado pedia cargos no governo federal, conforme denúncia feita pelo jornal Estado de S. Paulo na época. Fato insólito veio depois, quando, na votação, ele colocou o filho, então com 15 anos de idade, para votar no plenário da Câmara a favor do impeachment.

O seu partido é maioria na Alepe e o seu pupilo Cleiton Collins, o favorito para ocupar interinamente o cargo de presidente da casa. Percebendo a invencibilidade do PP na disputa, o PSB, partido do governador, decidiu manobrar e indicar um nome mais maleável do próprio PP para evitar que Collins sente na cadeira vaga deixada por Uchoa e assim fortaleça ainda mais o guloso Eduardo da Fonte, que já abocanhou vários cargos no governo estadual. A opção dos governistas é por Eriberto Medeiros.

Mas, enquanto Eduardo da Fonte se fortalece à direita de Paulo Câmara, à sua esquerda ganha corpo o nome da vereadora Marilia Arraes (PT). E, para desespero de alguns petistas, de sua carceragem na Polícia Federal, o ex-presidente Lula mandou recado: disse que, se estivesse no PT de Pernambuco, sua candidata seria ela.

E parece que só o próprio PT de Pernambuco não percebe a oportunidade que se abre com o nome da jovem e barulhenta Marília. Oportunidade de retomada do poder local, perdido com tantos desentendimentos internos e escândalos envolvendo a legenda.

Agora, se o PT acordar, quem precisa reagir rápido é o governador Paulo Câmara, que tende a ficar comprimido entre as forças que crescem de um lado e de outro.

Por Patrícia de Raposo, editora chefe da Folha de Pernambuco