O candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, decidiu atacar a classe artística ao responder manifesto divulgado nesse domingo (23) por um grupo que reúne intelectuais, juristas, ativistas, atletas, empresários e, claro, artistas. A carta intitulada “Pela democracia, pelo Brasil” classifica a candidatura do ex-capitão do Exército como uma “ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial”.
Internado há 18 dias em razão do ataque a faca sofrido no início deste mês em Juiz de Fora (MG), Jair Bolsonaro usou as redes sociais para acusar artistas de trocarem apoio político por financiamento de seus projetos com dinheiro público.
“Incentivos à cultura permanecerão, mas para artistas talentosos, que estão iniciando suas carreiras e não possuem estrutura. O que acabará são os milhões do dinheiro público financiando ‘famosos’ sob falso argumento de incentivo cultural, mas que só compram apoio! Isso terá fim!”, esbravejou o candidato.
A resposta do presidenciável desencadeou entre os apoiadores de Bolsonaro uma avalanche de críticas à Lei Rouanet , mecanismo que permite a produtores e instituições captarem, junto a pessoas físicas e jurídicas, recursos para financiar projetos culturais.
Resposta de Jair Bolsonaro causa reação de apoiadores
A hashtag #RouanetNão se tornou o quarto assunto mais comentado no Twitter mundial na manhã desta segunda-feira (24). Muitos dos ataques à lei, no entanto, expressam desinformação, como em mensagens que associam essa política a filas em hospitais (sendo que Saúde e Cultura têm orçamentos distintos).
O valor destinado a projetos culturais via Lei Rouanet não sai diretamente dos cofres públicos , mas sim representa dedução de impostos que seriam pagos no Imposto de Renda pelas empresas que aceitam financiar projetos. De janeiro a setembro deste ano, de acordo com números do Ministério da Cultura, o governo deixou de arrecadar cerca de R$ 400 milhões em impostos em razão da política de incentivos culturais.
Dois dias antes de ser vítima do ataque a faca que o obrigou a se afastar da campanha eleitoral, Jair Bolsonaro havia proposto rebaixar o Ministério da Cultural à condição de uma secretaria do Ministério da Educação. Na ocasião, o candidato também já havia defendido “revisar” os mecanismos da Lei Rouanet para “conter recursos”.