Política

Marília Arraes diz a Lula que pretende concorrer ao Governo de Pernambuco

A conversa entre Lula e Marília aconteceu em São Paulo e durou quase uma hora e meia. O ex-presidente já comunicou a cúpula do partido sobre a nova movimentação da deputada.

De saída do PT, a deputada federal Marília Arraes (PE) disse ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta segunda-feira (21), que pretende concorrer ao governo de Pernambuco nas eleições de outubro, criando um segundo palanque para o petista no estado.

A conversa entre Lula e Marília aconteceu em São Paulo e durou quase uma hora e meia. O ex-presidente já comunicou a cúpula do partido sobre a nova movimentação da deputada.

Ela também manteve a intenção de deixar o PT, mesmo após ser indicada pela sigla como pré-candidata ao Senado em Pernambuco na aliança com o PSB.

Marília tenta atrair para seu palanque o PSD. Nesse cenário, o deputado federal André de Paula seria o candidato ao Senado. O movimento desidrataria o arco de alianças do PSB, que governa o Estado desde 2007.

“Tive uma boa conversa política hoje em São Paulo com o presidente Lula. Conversamos sobre o quadro político nacional, analisamos a situação eleitoral em Pernambuco e as alternativas que se colocam no Estado, reafirmando o compromisso com a candidatura do [ex-]presidente Lula”, publicou Marília nas redes sociais.

Marília Arraes flerta com o Solidariedade e o MDB, mas tem negociações mais avançadas para se filiar ao Solidariedade, comandado nacionalmente pelo deputado federal Paulinho da Força (SP).

O Solidariedade faz parte da base de apoio de Lula na disputa presidencial. Esse fator é tido, por interlocutores de Marília, como crucial para a definição na nova legenda.

O encontro de Marília com Lula em São Paulo ocorreu um dia depois de o PT de Pernambuco indicar a deputada como pré-candidata ao Senado pelo partido na chapa encabeçada pelo pré-candidato do PSB ao governo do estado, o deputado federal Danilo Cabral.

A indicação do PT pernambucano aconteceu após Marília Arraes começar a ensaiar a saída do partido. No entanto, o movimento não foi suficiente para deter a diáspora da parlamentar do partido.

Na noite do domingo (20), Marília Arraes divulgou uma nota com duras críticas ao PT pela condução do processo eleitoral em Pernambuco. Afirmou que o seu nome está sendo usado pelo partido e disse que não se colocou para a disputa do Senado.

“A posição do PT de Pernambuco, indicando o meu nome para concorrer ao Senado pela Frente Popular revela, no mínimo, descuido com o tratamento de assunto tão sério e uma precipitação sem limites. Não fui consultada e não autorizei que envolvessem o meu nome em qualquer negociação, menos ainda que tornassem público, como se fossem os senhores do meu destino”, disse.

Marília relembrou que, em 2018, se lançou como pré-candidata ao Governo de Pernambuco. Ela, no entanto, foi rifada do pleito pela direção nacional do PT em troca do PSB não dar apoio a Ciro Gomes.

Em 2020, o cenário foi inverso: Marília não teve o aval do PT local para disputar a Prefeitura do Recife, mas a direção nacional da legenda fez uma intervenção e bancou a sua candidatura. A petista acabou derrotada pelo primo de segundo grau, João Campos (PSB), em um segundo turno de disputa acirrada.

“Indelicadamente, usam o meu nome, como massa de manobra. Tudo isso não é compatível com o bom senso que deve nos nortear na política”, disse a deputada, ainda no domingo.

A deputada prometeu anunciar, nos próximos dias, o seu destino partidário, mas reafirmou apoio a Lula na disputa presidencial. “Expresso todo o meu apoio, incondicional, à campanha do presidente Lula para a Presidência da República, com a lealdade e a correção das minhas tradições”.

A expectativa é que ela anuncie o seu destino político ainda nesta semana. De São Paulo, ela deverá ir para Brasília, onde terá um novo encontro com Paulinho da Força.

Segundo aliados, a tendência é que o anúncio da mudança de rumo político aconteça quando a deputada retornar a Pernambuco.

A saída de Marília do PT pode gerar uma encruzilhada para o ex-presidente Lula na corrida eleitoral de 2022 e provoca uma rearrumação do quadro eleitoral do estado.

Apesar de preferir o governo de Pernambuco, a deputada não descarta, segundo aliados, disputar o Senado, em uma possível aliança com a prefeita de Caruaru e pré-candidata ao governo estadual, Raquel Lyra (PSDB).

O espaço para Marília entrar no Solidariedade foi aberto após a filiação do deputado federal Augusto Coutinho (PE) ao Republicanos. Ele deixou o comando da sigla no estado. Com isso, Marília Arraes deverá receber o aval de Paulinho da Força para presidir a legenda em Pernambuco.

O Solidariedade pretende consultar o ex-presidente Lula, em breve.

Outro partido procurado por Marília foi o PDT, mas a sigla tem resistências à chegada porque a deputada quer manter voto em Lula para presidente, enquanto a legenda tem o ex-ministro Ciro Gomes como pré-candidato ao Palácio do Planalto.

Atualmente aliado ao PSB em Pernambuco, o PDT só pretende desmobilizar a aliança se for para ter um candidato ao governo que peça votos para Ciro Gomes.

A saída de Marília preocupa o PT de Pernambuco, que teme pelas chapas proporcionais. O partido tem atualmente em Pernambuco dois deputados federais e três estaduais.

Mesmo com a federação com PV e PC do B, há um consenso entre os petistas de que a situação ficará complicada sem Marília no partido, seja para ela buscar a reeleição à Câmara ou redistribuindo o seu eleitorado entre aliados.

O porta a porta de Marília em outros partidos coloca Lula numa encruzilhada no palanque estadual de Pernambuco. O ex-presidente não tende a vetar a migração da deputada para o Solidariedade, pois o partido já declarou apoio à sua postulação ao Planalto.

Em paralelo, também não pode avalizar o ingresso de Marília Arraes em outro partido, ainda que seja um aliado do PT, para não provocar tensão no palanque estadual do PSB em Pernambuco. O estado é o centro de poder da legenda e, nesse cenário, Marília estaria se opondo ao partido.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, chegou a ligar para Marília e conversou com ela para tentar mantê-la no PT.

O senador Humberto Costa fez o mesmo, mas as ligações dele não foram atendidas por Marília. Em Pernambuco, Marília faz parte de grupo oposto ao do senador Humberto Costa no PT.

Marília entrou no PT em 2016, dois anos após iniciar um processo de rompimento com o PSB. Antes de ser deputada federal, ela foi vereadora do Recife por três mandatos, dois pelo PSB e um pelo PT.

A relação dela com o PSB estremeceu em 2014, após o ex-governador Eduardo Campos negar legenda para Marília disputar a Câmara Federal pela sigla. Além disso, a deputada já disse publicamente que os rumos do PSB, que à época passou a firmar alianças com políticos de perfil de direita, também foram determinantes para a sua saída.

Catia Seabra/José Matheus Santos/Folhapress

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