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Tem rapariga aí? artigo do escritor José Teles sobre o novo forró no Brasil

Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem ‘rapariga na plateia’, alguma coisa está fora de ordem

Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!’. A maioria das moças, levanta a mão. A pergunta foi feita por um vocalista de uma banda que se diz de forró. Esta cena aconteceu numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde as bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em ir embora.

Algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório dos grupos.

Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem ‘rapariga na plateia’, alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é ‘É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!’, alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos”.

O texto acima é um trecho de uma crônica que escrevi, quando as bandas de fuleiragem estavam no auge. Alguns anos depois, subiram um pouquinho o nível das letras. O da música continua no rés do chão.
A crônica chama-se A Música dos

Valores Perdidos e, sabe-se lá o motivo, circula pela Internet como se fosse de Ariano Suassuna. Cai numa fake news sem querer. Ariano também.

JOSÉ TELES é escritor e crítico musical do Jornal do Commercio
do Recife, Pernambuco.

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8 pensamentos “Tem rapariga aí? artigo do escritor José Teles sobre o novo forró no Brasil”

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