Política

Descanse em paz, 3ª via

Por Pablo Magalhães

Desde o início da campanha eleitoral, parte dos grandes grupos midiáticos introduziram em seu vocabulário diário um termo que, acreditavam eles, iria emplacar no gosto popular: 3ª via.

Nem Lula (PT) nem Bolsonaro (PL). Uma alternativa à polarização, argumentavam, que tanto mal fazia ao cenário político nacional.

Entrevistas e mais entrevistas, num horário nobre preenchido com João Dória e Eduardo Leite (PSDB), Simone Tebet (MDB) e mesmo o ex-juiz operador informal da Lava Jato, Sérgio Moro (ex-Podemos), davam espaço e voz para a ainda nascente 3a via.

O resultado disso não foi dos melhores. Na verdade, o quadro geral é bastante desolador para aqueles que acreditavam em uma alternativa combativa contra as duas candidaturas que aparecem à frente nas pesquisas.

Ao som de um violino chorão, a virada de Março para Abril marcou o fúnebre fim da 3a via. Ao menos, este foi o abalo de algumas candidaturas que se apresentavam desta forma.

PSDB X Dória

Oscilando entre 1% e 3%, o presidenciável do PSDB nunca engatou de fato em um crescimento eleitoral. Sua carreira política parece dar mostras de desaceleração, após emendar uma eleição para prefeito e outra para governador, sem intervalos.

Isso é menos pelo seu apelo popular e mais pela estrutura de marketing em torno de si. Dória sempre se viu maior que o próprio partido, e suas preocupações com o eleitorado foram sempre inferiores ao seu desejo de galgar degraus no pequeno período de exercício de cargos públicos eletivos.

Não bastasse isso, o tucano ainda ensaiou uma desistência da candidatura ao Palácio do Planalto. Nesse meio tempo, simulou que concorreria, na verdade, à reeleição ao governo de São Paulo. Isso tirou a cúpula do PSDB do sério.

Seu vice, Rodrigo Garcia, escolhido para concorrer ao governo, ameaçou se filiar a outro partido e concorrer isolado dos tucanos. O ultimato foi dado antes de Dória realizar um evento com 600 prefeitos do estado paulista, onde ele enrolou, enrolou, e disse que continuaria sendo candidato.

Mas, possivelmente, o estrago já estava feito. O presidente do PSDB, Bruno Araújo, comunicou na sexta-feira, 01/04, que a candidatura presidencial não estava totalmente selada, por mais que, dias antes, ele mesmo tenha redigido uma carta aberta em que garantia Dória como o nome do PSDB à corrida presidencial.

Há outros nomes. Eduardo Leite, o adversário ex-governador do Rio Grande do Sul, ainda é cotado, mesmo tendo perdido as prévias do partido.

Simone Tebet, do MDB, é outra possibilidade, demonstrando uma possível aliança entre os dois partidos.

Moro, o último lamento de um marreco

O ex-juiz Sérgio Moro (Foto: Nelson Almeida/AFP)

A candidatura do ex-ministro organizador da Lava Jato surgiu, para os setores conservadores da sociedade brasileira, como uma alternativa de grife para os endinheirados do país.

Ao se filiar ao Podemos, Moro causou certo frisson ao atingir 11% das intenções de voto, segundo pesquisa da Ponteio Político, divulgada pela Veja.

De garoto prodígio ele passaria a piada nas redes ao colecionar aparições desastrosas na TV e no Youtube. Sem traquejo e nem experiência, foi engolido por comentaristas políticos e pelos adversários, em especial Ciro Gomes que, com seus reacts, reduziu a pó as pretensões do outrora super ministro.

Não durou sequer um trimestre sua campanha. Numa nota vexatória, avisou que estava se desfiliando do partido de Álvaro Dias ao mesmo tempo em que anunciava sua ida ao União Brasil (federação que une PSL e DEM).

Ele sequer se despediu do Podemos, como divulgaria o próprio partido.

E não pára por aí. De trapalhadas em trapalhadas, no União Brasil, Sérgio Moro quase teve sua filiação impugnada. Vamos aos fatos: ao entrar no novo partido, o ex-juiz foi avisado que ele deveria abandonar a corrida presidencial.

Moro disse que sim, depois disse que não em vídeo público. Isso causou um rebu na cúpula do partido que só se pacificou quando as partes entraram em um acordo: o destino do ex-ministro seria São Paulo, em um cargo legislativo, de preferência para deputado.

Definitivamente, é o fim da aventura daquele que fez da toga uma capa voadora em direção à política.

Quem se beneficiará?

As pesquisas vêm sendo bastante consistentes em uma coisa: Lula e Bolsonaro serão os protagonistas das eleições de 2022, queiram ou não as grandes corporações midiáticas.

Vamos tomar como base dois dos principais institutos que publicaram os mais recentes resultados de consulta pública.

De acordo com o Datafolha, Luiz Inácio Lula da Silva tem 43% das intenções de voto no primeiro turno, seguido por Jair Messias Bolsonaro, que pontua 26%. A pesquisa ouviu 2.556 pessoas nos dias 22 e 23 de março em 181 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

Em comparação com a pesquisa anterior do mesmo instituto, em dezembro/2021, Lula encolheu 5% (tinha 48%) e Bolsonaro cresceu 4% (tinha 22%).

Já de acordo com o PoderData, ainda que Lula lidere com 41% das intenções de voto, sua distância para Bolsonaro caiu para 9 pontos de diferença, tendo o atual presidente marcado 32% das intenções de voto.

Como podemos ver, em ambos os resultados, a distância entre os líderes de intenção de voto encurtou.

Entre os diversos fatores desta oscilação positiva de Bolsonaro está o Auxílio Brasil, programa de distribuição de renda implementado (mas não criado e nem feito com seu aval) pelo atual presidente.

Com 8% no Datafolha e 6% no PoderData, Moro aparece num 3o lugar que agora está vago. De acordo com analistas, há duas possibilidades de migração deste eleitorado: parte para o atual presidente, parte para uma candidatura menos expressiva, como a de Simone Tebet ou de João Dória (se ele concorrer, de fato).

Ciro Gomes (PDT) e Lula dificilmente receberiam esse contingente, tamanha a distância que possuem do eleitor adepto do lavajatismo.

Um violino chora

Músicos no Titanic, um clássico (Imagem/reprodução: Titanic [1998])

Acho que você, estimada pessoa que me lê, já deve ter ligado os pontos. A chance de uma 3a via com possibilidades de vitória é remota, quase impossível.

Enquanto chora o violino no cortejo fúnebre dessa promessa eleitoral natimorta, seguram o caixão tucanos, lava jatistas e pseudo-centristas.

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2 pensamentos “Descanse em paz, 3ª via”

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