Política
Política real de Petrolina: vereador não se elege só, porém, esperar pela ajuda de prefeito ou deputado é tentar enxugar gelo
Razões para se candidatar e razões para não se candidatar.
Este ano, centenas de pessoas vão se inscrever para disputar a eleição para uma das 23 vagas de vereador(a) de Petrolina. Em 2020, 393 pessoas foram habilitadas para a disputa. Desde o ano 2000, o número de candidatos ao parlamento na cidade quase dobrou. Mas o que é preciso considerar antes de decidir embarcar nessa? Vamos explicar em cinco pontos quais são os desafios de ser candidato(a) a Vereador na cidade. Confira:
1. Você não é tão popular assim
Uma das razões que leva as pessoas a se candidatarem é a percepção de ser conhecido(a). Afinal, se muita gente te conhece, muita gente pode votar em você, certo? Errado. É muito difícil converter a familiaridade em voto.
Para se eleger vereador(a) é preciso cerca de 2000 votos, segundo os dados da última eleição, em 2020. Os eleitos tiveram, em média, 2790 votos. Mas houve quem se elegeu com menos de 2000 votos.
- Alex de Jesus (Republicanos) – 1.824 votos
- Professor Gilmar Santos (PT) – 1.735 votos
- Marquinhos Amorim (Republicanos) – 1.615 votos
- Rodrigo Araújo (Republicanos) – 1.562 votos
- Capitão Alencar (Patriota) – 1.539 votos
- Josivaldo Barros (PSC) – 1.520 votos
- Ruy Wanderley (PSC) – 1.450 votos
- Samara da Visão (PSD) – 1.269 votos
- Diogo Hoffmann (PSC) – 1.214 votos
- Junior Gás (AVANTE) – 1.183 votos (cassado)
No entanto, a conta não é tão simples assim. A eleição para a Câmara é proporcional, ou seja, cada partido ou coligação elege um número de vagas proporcional ao total de votos conquistados, sejam nominais ou não (ou seja, atribuídos a um candidato ou à legenda). O que determina o número de vagas é o quociente eleitoral, ou seja, o total de votos válidos registrados dividido pelo total de vagas.
Em 2020, o quociente eleitoral para a Câmara de Petrolina foi de 6,923 votos. Isso significa que o partido ou coligação precisou de 6.923 votos para cada cadeira que conquistou. Na prática, isso quer dizer que nenhum vereador eleito se elegeu com os próprios votos, nem mesmo o vereador mais votado, Manoel da Acosap (DEM), que teve o recorde de 3.755 votos.
2. Uma cadeira na Câmara custa muito caro
Uma das razões para o desempenho ruim de muitos dos candidatos(as) a vereador(a) é a falta de recursos. Fazer uma campanha custa muito caro. Segundo dados das prestações de contas da eleição para a Câmara de Petrolina em 2020, cada voto registrado para vereador(a) custou R$ 16,61 em recursos de campanha.
Na hora de convidar novos(as) candidatos(as), os partidos costumam prometer parte desse bolo para as campanhas dos novatos(as). Mas a realidade é que os partidos concentram os recursos nas candidaturas majoritárias (no caso, nos candidatos(as) a prefeito(a) e em candidatos na proporcional com maior potencial eleitoral. Em 2020, os candidatos a prefeito ficaram com 70% dos recursos eleitorais em Petrolina.
Para o candidato(a) novato(a), isso significa pouco investimento do partido e mais empenho pessoal.
3. Partidos não cumprem o que prometem
Se o dinheiro para a campanha vem dos partidos e fundos, qual a chance de você conseguir parte desses recursos? Para novatos, pequena. Nas últimas eleições, os partidos não cumpriram a legislação que determina a aplicação de pelo menos 30% dos recursos em candidaturas de mulheres e agora tentam uma anistia via Congresso Nacional para escaparem das punições previstas.
O cenário provável para um(a) candidato(a) novato(a) numa eleição municipal é receber os recursos de campanha na forma de serviço (impressão de santinhos e adesivos, assessoria jurídica, por exemplo), e não em dinheiro. Num cenário eleitoral em que boa parte das estratégias de marketing converge para o ambiente digital, acaba sendo contraproducente. Além disso, para distribuir santinhos e adesivos, o(a) candidato(a) precisa participar de eventos, promover encontros, visitar o eleitorado, todas as ações que têm outros custos, como o com deslocamento, alimentação, pessoal para fazer registro fotográfico e publicações em redes sociais.
4. A maioria dos candidatos serve para eleger poucos
Como explicamos acima, nenhum candidato eleito se elege com os próprios votos. Além disso, o partido precisa cumprir a legislação de cotas e de uso dos fundos para evitar punições. Os dados do TSE mostram que a inclusão de mais mulheres e negros nas eleições não se deu pela substituição de candidatos homens e brancos, mas sim pelo aumento do número de candidatos.
O PT, por exemplo, elegeu um vereador: o Professor Gilmar Santos, que teve 1.735 votos. O partido teve 4,35% dos votos válidos, pouco mais de 7 mil votos o que garantiu a vaga do vereador. A diferença entre os votos dele e os que atingiram o quociente eleitoral veio de 32 outros candidatos(as) da legenda. Gilmar Santos gastou R$ 90 mil em recursos para a campanha, a maioria vinda de doadores Pessoa Física. Os outros candidatos tiveram, em média, R$ 5,6 mil para a campanha.
No Podemos, que elegeu Elismar Gonçalves e Marquinhos do N-4, a situação é parecida. Elismar teve 2.041 votos e Marquinhos do n-4, 2.196 votos. Os outros votos que permitiram ao partido ficar com as duas vagas na Câmara vieram dos outros candidatos da legenda. Os recursos para estas duas campanhas, 70% vieram do fundo especial eleitoral.
Quando decide se candidatar, é preciso considerar o que isso significa. Eleito ou não, o candidato tem responsabilidade pelos atos de campanha e o resto que uma candidatura implica. Primeiro, ao se registrar candidato, você cria uma nova persona: uma persona pública. Isso implica em:
- Seus dados de registro são públicos. Mesmo quando o ex-candidato consegue uma decisão judicial contra o TSE para obrigar o tribunal a retirar essas informações, essa decisão não afeta os veículos jornalísticos que podem ter republicado elas.
- Você é responsável pelas movimentações de recursos da sua campanha. Mesmo que o partido ofereça assessoria contábil, não é aconselhável deixar isso na mão de terceiros. Você precisa revisar e analisar toda a documentação, já que não poderá alegar ignorância depois.
- Você será cobrado. Após se apresentar à população como candidato, é natural que você acabe procurado pelas pessoas para te cobrar não apenas suas ações, mas as do partido e dos parlamentares eleitos por ele.
- Candidaturas “laranjas” podem sofrer punições. Candidatos que se registraram não visando disputar a vaga, mas de obter favores e benefícios podem ser enquadrados no crime de falsidade ideológica para fins eleitorais (artigo 350 do Código Eleitoral). As punições possíveis incluem multas, cassação dos direitos políticos e até prisão.
Duas razões para se candidatar
Se a candidatura pode ser uma péssima decisão, há razões também para seguir em frente. A primeira delas é simples: você acredita que pode representar com qualidade um grupo social da cidade na Câmara. Melhor ainda se esse grupo social estiver mal representado ou não tiver representação atualmente.
Isso porque é a razão de existir da Câmara justamente ser um espaço de voz para a população da cidade em toda sua diversidade. Candidatos que pretendem garantir essa representação são importantes e essenciais à disputa.
A segunda razão é de ordem prática: você já está trabalhando na sua candidatura. Não se conquista um eleitorado da noite para o dia. Claro, com dinheiro (muito dinheiro) esse trabalho é facilitado, mas não é só dinheiro. E nem sempre o dinheiro. O bom e velho trabalho político de formação de base, de relacionamento, de bater perna e ouvir a população que você pretende representar é também fundamental.
Mas isso demanda tempo e não pode ser feito em alguns meses. Às vezes, leva anos. Veja o caso da vereadora Maria Elena (MDB), que está em seu quinto mandato. Elena fez suas campanhas notabilizando o trabalho dos professores, dos artesãos e da cultura. Setores esses que sofrem e muito por falta de representatividade e de voz nas esferas dos poderes constituídos.
Outro parlamentar com história semelhante é o de Osório Siqueira (MDB), eleito pelos projetos irrigados. O vereador começou a vida profissional na agricultura, trabalhando diretamente na lavoura. Nesse papel, participou da criação da Associação, se elegeu vereador pela primeira vez e agora está no quarto mandato.
Nas últimas eleições, a Câmara viu o surgimento de novas lideranças, como as vereadoras Samara da Visão e Lucinha Mota, bem como novos vereadores como Diogo Hoffman, Josivaldo Barros, Marquinhos de Rajada, Marquinhos do N-4 e o Capitão Alencar. Todos se propuseram a fazer o novo, o diferente.
Nada impede que você seja mais uma dessas lideranças.