Impactos socioambientais na implantação do Parque Eólico Lagoa dos Ventos

A dependência do Brasil em relação às usinas hidrelétricas exigiu uma diversificação na matriz elétrica nacional, abrindo caminho para a expansão da energia eólica. Dentro desse contexto, nos últimos anos o Brasil bateu recordes em expansão da capacidade de instalação de energia eólica, de acordo com dados do Governo Federal.

No último ano o país passou a ocupar a sexta posição mundial em capacidade total de energia eólica, com cerca de 20 gigawatts, contribuindo com 11% da matriz energética brasileira, passando a ser a terceira maior fonte de energia do Brasil, segundo dados da ANAEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).

O Nordeste é o maior polo de energia eólica do Brasil, responsável por 86% dos parques nacionais, e é no Estado do Piauí nos municípios Queimada Nova, Dom Inocêncio e Lagoa do Barro que está localizado o maior complexo de energia eólica da América do Sul, denominado de Parque Eólico Lagoa dos Ventos. O complexo é operado pela multinacional Enel Green Power, e quando estiver em plena operação, será capaz de gerar cerca de 1,5 GW, com 372 aerogeradores capazes de gerar mais de 6,7 TWh por ano e evitar a emissão de mais de 3,6 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera a cada ano.

Impactos nas comunidades e no meio ambiente

Desde o começo da sua implantação, o complexo é visto como sinônimo de progresso para a região, e de um futuro promissor para seus habitantes, segundo informações das empresas ali instaladas foram gerados mais de 1.500 empregos diretamente, aquecendo a economia local, além do arrendamento das terras dos agricultores.

O discurso amplamente difundido pela mídia e pelo setor privado seja de tecnologia limpa e de baixíssimo impacto ambiental, a exploração comercial dos ventos exige a ocupação de amplas áreas de terras para a instalação de aerogeradores e a implementação de infraestrutura logística. Ao pesquisar as comunidades diretamente impactadas pelo empreendimento percebemos que a legitimidade do discurso construído no espaço público, é questionado, principalmente pelos conflitos socioambientais.

A implantação desses projetos no Nordeste tem sido caracterizada por um processo que podemos chamar de Colonial, ocorrendo quase sempre pela expropriação e privatização de áreas de uso comuns, baixo custo pelas compras de terras, e preço mínimo pelo arrendamento de terrenos dos pequenos sitiantes, além de não ter uma contrapartida para beneficiar as comunidades locais, tais como geração emprego.

Por outro lado, é de extrema relevância que se faça uma averiguação mais profunda sobre como realmente as instalações do Complexo Eólico Lagoa dos Ventos, visando uma maior produção de energia a partir de fontes renováveis, desestruturou as bases sócio-econômico-ambientais nas comunidades locais.
Entende-se que as questões ambientais e sociais são escamoteadas pelo discurso da sustentabilidade dos empreendimentos de energia renovável. Os impactos sociais e ambientais associados à energia eólica possuem um caráter bastante específico e dependente da localização selecionada para a instalação do parque eólico. Isso somado a falta de um planejamento energético e fiscalização, acaba por caracterizar a fragilidade e a dificuldade na mitigação desses impactos negativos.

Assim, a compreensão desses impactos sociais e ambientais é primordial uma análise mais profunda da implementação desse projeto e dos planejamentos energéticos para a produção de energia eólica no Brasil, e especificamente no Estado do Piauí. Para assim objetivamente compreender de que forma as companhias nacionais e multinacionais, afetam localmente as comunidades a partir do discurso da sustentabilidade e de desenvolvimento.

Por,
Jorge Luiz Alencar